sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sobre roupas, memórias e afetos...

"No final de semana, li tantos blogs que falavam sobre moda, amores e paixões, que lembrei das minhas adoráveis paixões mal sucedidas. Passei horas divagando sobre a moda, a vida, as coisas da moda, e as coisas da vida que a moda e as paixões representam. Muito da história dos panos, suas tramas e as roupas que delas derivam, tem ocupado meu tempo, sobretudo as vestes, quem as veste e o porque das escolhas de quem veste. Penso sempre em quem faz as roupas, como elas nascem do desejo e a partir daí transformam-se em amores e em objetos de desejo. Vivo a me perguntar quem as deseja e quanto desejo acomete aqueles corpos outrora nus.

Tanto tenho procurado entender estes sentidos, signos e significados, tanto! Porque a moda, e, sobretudo o ato de vestir, transformaram-se em paixão. Das mais avassaladoras. E movida pela paixão, fui em busca de tais respostas. Quanto Freud li para tentar entender a sinuosidade de desejar, em quantos Lacan busquei o significado ético de tanto desejo, em Nietzsche tentei entender porque o super homem, motivado pela superação consegue ser o criador e dessa forma, transmutar seus próprios valores, foi em Jung que busquei todos os signos mitológicos que as Vênus e as Minervas expressam tão bem nas mídias de moda.

Com toda essa curiosidade, acabei me deparando com uma luta séria para derrubar a visão obtusa e equivocada da moda, como o mais fútil e efêmero aspecto da cultura ocidental. Além de demonstrar as condições sociais do indivíduo e do grupo ao qual deriva, a moda é também um foco de estudo poderoso do pôr-se no mundo, traduzido pela mão de nossas escolhas, vivências, amores, desejos e sensações. O ato de vestir exprime, à maneira de cada um, sonhos e esperanças, refletindo na construção de uma identidade influenciada pelo mundo que está a nossa volta e pelo que ele nos suscita, através de alegrias e tristezas, tédios e paixões.

Hoje, ao me olhar no espelho, sei um pouco mais sobre o que me liga às minhas roupas e consequentemente, sei mais sobre mim mesma. Ao fazer uma simples combinação de cores, texturas e estilos, mostro a minha forma de ver o mundo e a vida. Sou minha própria estilista e o meu guarda roupa transforma-se todos os dias em minha coleção. Somadas às minhas cicatrizes e tatuagens, minhas roupas contam a minha história. Ilustram de maneira concisa, quem eu escolhi ser. Levei minha vida inteira para aprender que as melhores lembranças que podemos ter, são as que ainda estão por vir. Minha camiseta de banda continua aqui, contando e entrelaçando a minha história à história deles, sem nunca termos nos visto e ainda que eu não escute mais tanto Ramones..."

Heidy Bastos - estudante do curso de Moda da Unama

O texto de Heidy, selecionado para ser publicado aqui no blog da revista, foi escrito durante a disciplina Pesquisa e criação 2, do curso de Moda da Unama. Os estudantes produziram textos a partir da leitura do livro "O casaco de Marx" e de reflexões sobre a subjetividade.

2 comentários:

ideias vestíveis disse...

Lindooo esse texto, de verdade!

"Sou minha própria estilista e o meu guarda roupa transforma-se todos os dias em minha coleção. Somadas às minhas cicatrizes e tatuagens, minhas roupas contam a minha história. Ilustram de maneira concisa, quem eu escolhi ser" - Maravilhaa hein, Heidy. :D
O texto deveria ser publicado na revista. :*

Fazendo Moda disse...

Meninos,

O texto da Heidy é muito bom!!! Posso reproduzí-lo no Fazendo Moda, citando a fonte original, claro! Bjs Rosyane